O Museu Quinta de Santiago, em Leça da Palmeira, Matosinhos, assinala os 150 anos do nascimento de António Carneiro com uma mostra em que será possível conhecer dezenas de obras, documentos e objetos daquele que foi considerado o precursor do simbolismo em Portugal. A exposição é inaugurada neste sábado, ficando patente até 26 de fevereiro
Será uma oportunidade para ver as duas versões de uma das obras mais relevantes do pintor e poeta amarantino. O original "Ecce Homo" (1901), agora pertencente à coleção da Câmara de Matosinhos mas na altura recusado pela Santa Casa da Misericórdia do Porto (que o encomendara), vai figurar ao lado do quadro em que o artista acrescentou à figura de Cristo a coroa de espinhos e a cana verde e, este sim, aceite pela instituição. Segundo um comunicado da Autarquia, pela primeira vez as duas pinturas vão ser expostas fora das instalações da Misericórdia do Porto.
Outras obras, como "Menina do gato", um retrato da sua filha, Maria Josefina, os múltiplos autorretratos, os retratos a carvão de João de Deus e desenhos nunca exibidos estarão em destaque na exposição, assim como estudos de outras duas obras marcantes, o tríptico "A Vida" e "Camões lendo Os Lusíadas aos frades de S. Domingos".
Objetos pessoais, cartas, fotografias, livros e pincéis contribuem também para dar a conhecer a versatilidade de António Carneiro enquanto poeta e enquanto pintor, ilustrador, retratista e paisagista.
Nascido a 16 de setembro de 1872 em S. Gonçalo de Amarante, António Teixeira Carneiro Júnior foi abandonado pelo pai aos sete anos e pouco depois ficou órfão de mãe. Em 1879 foi viver para o Asilo do Barão de Nova Sintra, da Santa Casa da Misericórdia do Porto, onde fez os primeiros estudos e começou a desenhar, copiando ilustrações de textos religiosos e de periódicos.
Não passou muito tempo para que o seu talento fosse notado, pelo que ingressou muito novo na Academia Portuense de Belas Artes, em 1884. Era então conhecido como o "Mongezinho de Nova Sintra". Em 1897, partiu para Paris e frequentou a Academia Julien. Regressado ao Porto, foi convidado a lecionar na Academia de Belas Artes, em 1911, ficando depois responsável pela cadeira de Desenho de Figura. É nessa cidade que se situa o Ateliê António Carneiro, na rua com o mesmo nome. O edifício, parte integrante do Museu da Cidade do Porto, está encerrado ao público para reabilitação, devendo reabrir no final do primeiro trimestre de 2023.
Da sua obra fazem parte, ainda, retratos de companheiros, intelectuais e artistas, como Teixeira de Pascoaes, Correia de Oliveira, Antero de Quental ou Guilhermina Suggia. Cenas religiosas, cenas familiares e paisagens, como as praias de Leça da Palmeira, onde passou as férias de verão entre 1906 e 1915, são outros marcos da sua pintura.
Apesar de a maior parte das obras presentes na exposição "António Carneiro. O poeta com pincéis" pertencer à Câmara de Matosinhos, colaboram na mostra outras instituições, como o Museu da Misericórdia do Porto, o Museu Nacional Soares dos Reis, o Museu Nacional Grão Vasco, o Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, o Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso, o Museu João de Deus e a Fundação Marques da Silva. A Câmara do Porto, por seu turno, cedeu imagens de algumas pinturas.
A inauguração da mostra está marcada para as 17 horas deste sábado e vai incluir um momento musical, com o Quarteto de Cordas de Matosinhos a interpretar temas do compositor e violinista Cláudio Carneyro (1895-1963), filho mais velho do artista.
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