top of page
Foto do escritorNotícias de Matosinhos

Cuidadores informais precisam urgentemente de apoio psicológico

Inquérito nacional, realizado pela Merck, com apoio do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, confirma que 83,3% dos cuidadores informais admitem ter-se sentido em estado de burnout/exaustão emocional em algum momento



Apesar de se falar cada vez mais sobre os cuidadores informais em Portugal, sobre a importância do papel que desempenham, pouco se tem discutido sobre o impacto do mesmo na sua saúde mental e bem-estar. Foi isso que quis saber um inquérito realizado pela Merck, com o apoio do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, que conclui que a maioria destes cuidadores vê-se numa situação de vulnerabilidade – psicológica, emocional, social. De facto, 63,7% sentem dificuldade em estar à vontade ou descontraídos, 47,7% não são capazes de rir e/ou ver o lado positivo como faziam antes, 45,7% sentem-se muitas vezes ansiosos/contraídos e 37,4% não têm cuidado com o aspeto físico como deviam – colocaria 37,4% perderam a vontade de cuidar de si.

“De forma geral, os resultados deste estudo são muito expressivos” confirma Ana Carina Valente, psicóloga responsável por este estudo e docente do ISPA – Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida. “Estes resultados demonstram que os cuidadores informais apresentam níveis elevados de sofrimento psicológico, baixos níveis de bem-estar e sintomatologia depressiva e ansiosa, contribuindo, em muitos casos, para o surgimento de psicopatologias”, acrescenta a especialista.

Os dados deste inquérito nacional realizado junto de mais de mil cuidadores informais revela que a maioria (83,3%) admite ter-se sentido em estado de burnout/exaustão emocional em algum momento, com 78,5% a concordarem que o seu estado de saúde mental influencia o desempenho do seu papel de cuidador informal. “Segundo a Organização Mundial de Saúde, não existe saúde sem saúde mental. E, neste sentido, podemos afirmar que muitos dos cuidadores – ao apresentarem estes resultados em escalas que avaliam Ansiedade e a Depressão e o seu Bem-estar psicológico, emocional e social -, sob o ponto de vista psicológico, não estão com saúde. E esse estado, pode em alguns casos, influenciar a forma como ‘me sinto e lido comigo e com os outros’”, confirma Ana Carina Valente.

Ao todo, quatro em cada dez (41,5%) não acreditam que a forma como a sociedade funciona faz sentido, com 37,3% a não sentirem também a pertença a uma comunidade. “Sentir-me sozinho e sem apoio, sem esperança (desesperança), exaustão física e emocional, traduz-se (em muitos casos) em sofrimento psicológico, provocando grande impacto na funcionalidade das pessoas, que também são cuidadores informais.”

A maioria (77,9%) dos cuidadores informais reconhece ainda a necessidade de apoio psicológico, mas são poucos os que realmente procuram e usufruem deste apoio extra (42,1%), ainda que muitos (69,7%) manifestem o desejo de o ter. A maioria (83,9%) dos inquiridos confirma também que uma linha de apoio com profissionais especializados é algo que veem com bons olhos. “Muitas vezes, não procuramos apoio psicológico porque o Serviço Nacional de Saúde não nos dá uma resposta eficaz, pelo que a resposta obtida, muitas vezes, é ‘privada e paga’, não estando ao alcance de todas as pessoas. Uma linha de apoio psicológico eficaz faria, com certeza, muita diferença na vida de muitos cuidadores. Essa possibilidade traduz-se, entre muitas coisas, na possibilidade de cuidar de mim. Cuidar da minha saúde mental”, reforça a psicóloga.

Para a especialista, não há mesmo dúvidas: “as pessoas que são cuidadores informais precisam de apoio. Precisam que toda uma sociedade (todo um Estado) as acolha e as ajude, por forma a minimizar ‘os danos e as consequências’ que a sua condição de cuidador ‘trouxeram’ à sua vida, à forma como vivem a sua vida. Que todos possamos ouvir os cuidadores e refletir sobre estes resultados. Que todos possamos fazer a nossa parte. Que se criem respostas efetivas de ajuda aos cuidadores”.

Segundo Pedro Moura, Diretor-Geral da Merck, “o Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais realizou, durante o ano de 2021, um estudo aos cuidadores informais em Portugal e concluiu que 52,0% dos cuidadores sente falta de apoio psicológico, principalmente por parte do Estado, e que há necessidade de um maior apoio neste campo. Este novo estudo realizado com o apoio do Movimento Cuidar dos Cuidadores Informais, teve a iniciativa de, com o apoio da psicóloga Ana Carina Valente e do Movimento, veio aprofundar esta problemática e de recolher mais informações sobre a saúde mental dos cuidadores informais e as suas necessidades. É fundamental que a sociedade e o Estado tomem consciência que é urgente dar este apoio psicológico.”


Ficha técnica do estudo A informação para este estudo foi recolhida pela Multidados através de inquéritos online (CAWI), com duração aproximada de 10 minutos, efetuadas entre os dias 3 de Novembro de 2022 a 04 de Janeiro de 2023. O estudo foi realizado a 1183 indivíduos residentes em Portugal continental.

Kommentare


bottom of page