O reitor da Universidade do Porto, António de Sousa Pereira, anunciou que está "em fase bastante adiantada" a negociação com vista à instalação de um polo tecnológico e de um centro de inovação nos terrenos da antiga refinaria da Petrogal, em Matosinhos

Segundo o Jornal de Notícias, o futuro campus será uma "verdadeira incubadora de talento em setores de intensa especialização", disse o responsável, na tarde desta quarta-feira, no encerramento da sessão solene comemorativa dos 112 anos da instituição.
Segundo o reitor, o novo campus, "permitirá o crescimento e a afirmação da universidade como um centro de excelência nos domínios da neutralidade carbónica e climática, das energias limpas e renováveis, da mobilidade sustentável e da economia circular". Dedicado às engenharias e à ciência, o polo irá ocupar uma área com cerca de 50 hectares. O JN apurou que deverá ficar instalado no extremo sul dos terrenos da antiga refinaria de Leça da Palmeira, numa zona com melhores acessos, incluindo a transportes públicos, do que a inicialmente prevista, na parte norte.
Em relação à construção e reabilitação de residências universitárias, António de Sousa Pereira afirmou que, "apesar das dificuldades e constrangimentos existentes no setor da construção civil e da consequente incerteza orçamental, os projetos estão a avançar dentro dos prazos previstos". Acrescentou, a propósito, que a Universidade do Porto espera abrir, "já no início do próximo ano letivo", a residência da Carvalhosa, que terá 54 camas.
Com recurso a fundos do Plano de Recuperação e Resiliência, o projeto que visa aumentar a capacidade de alojamento dos jovens estudantes universitários na cidade contempla a construção de três residências (Carvalhosa, Boa Hora e Asprela), com um total de 411 camas, e a requalificação de outras quatro (Campo Alegre III, Jayme Rios de Sousa, Novais Barbosa e Alberto Amaral). No caso dos edifícios a requalificar, o objetivo é aumentar a eficiência energética e melhorar os espaços de convívio, quartos e cozinhas. "O investimento total previsto é de cerca de 32 milhões de euros", lembrou o reitor, sublinhando que caberá à Universidade do Porto garantir, com receitas próprias, uma fatia de 12 milhões.
Foi igualmente referida a obra de requalificação do edifício Abel Salazar, onde irá surgir "um espaço de formação multidisciplinar e pós-laboral que permitirá alargar e reforçar" a oferta formativa, além de proporcionar um avanço "na formação contínua e na maior qualificação dos recursos humanos" da Universidade do Porto. O reitor realçou ainda uma parceria com a empresa Metro do Porto, no sentido de ser criado um "espaço de estudo e e-learning sobre a estação do Campo Alegre" da futura linha Rubi. O espaço multifuncional terá capacidade para uma centena de utilizadores em simultâneo.
Reitor honorário da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa foi o orador convidado da sessão solene deste ano. Considerando que as melhores universidades do Mundo "mantiveram-se seguras da sua identidade e da sua diferença", o também professor catedrático não deixou de sublinhar que "há mais vida" para além dos anfiteatros, querendo com isso dizer que "a sala de aula é importante mas não chega".
O orador disse que o futuro do país depende da força, do vigor e do contributo das universidades e lamentou que, passados quase 50 anos sobre o 25 de Abril, ainda não tenha sido consagrada, verdadeiramente, a autonomia das universidades. Defendeu, por isso, que todo o ensino superior deve exigir "o cumprimento da Constituição" nessa matéria. O seu discurso foi calorosamente aplaudido pela plateia que o ouviu, no salão nobre da Reitoria, onde figuravam, entre outros, representantes do meio académico, autarcas, deputados, militares e entidades religiosas.
A questão do alojamento dos estudantes universitários já tinha sido abordada pela presidente da Federação Académica do Porto. Ana Gabriela Cabilhas referiu que "a luta dos estudantes permitiu encontrar financiamento para a construção das residências públicas" e considerou que esse foi "um bom exemplo de como as instituições devem ouvir os seus estudantes". "Se o tivessem feito mais cedo, provavelmente o problema não seria tão grave como é hoje", acrescentou.
Para Ana Gabriela Cabilhas, a Universidade do Porto "não está preparada para acolher trabalhadores-estudantes", devido a vários fatores. Considera que "o excesso de carga horária, a falta de metodologias de ensino à distância e o desrespeito na aplicação do estatuto não convergem com a abertura de portas à formação ao longo da vida".
As críticas prosseguiram. A dirigente disse que o "planeamento estratégico da Universidade do Porto carece de coesão". Numa alusão ao plano recentemente aprovado, afirmou que "responder à visão estratégica para 2030 traz responsabilidades acrescidas", não bastando haver "grupos de reflexão que produzem relatórios de muitas páginas, para que tudo fique mais ou menos na mesma".
Ana Gabriela Cabilhas referiu ainda que, "na Universidade do Porto, 72% de professores mantêm-se na casa em que se doutoraram", acrescentando que a mobilidade, sendo uma oportunidade de crescimento pessoal e académico, "não pode ser uma etapa exclusiva para os discentes". Aos professores deixou outro recado: "O docente precisa de encontrar novas formas de avaliar, de alcançar um ensino mais centrado no estudante, nas suas especificidades e nos percursos flexíveis que almejam".
Comments