Estudo sobre excesso de mortalidade anunciado pela ex-ministra da Saúde ainda estará numa fase incipiente
O ano de 2022 terminou com quase tantos óbitos por todas as causas como o de 2021 e mais mortes do que as registadas no primeiro ano da pandemia de covid-19. Ainda provisórios, os dados do sistema de vigilância da mortalidade da Direcção-Geral da Saúde (DGS) indicam que em 2022 morreram 124.731 pessoas em Portugal, quase igualando o ano anterior (125.185), que ficou marcado por um pico inaudito no número de óbitos em Janeiro e Fevereiro. Mas há uma diferença: no ano passado, percentualmente, as mortes atribuídas à covid-19 corresponderam a cerca de metade das contabilizadas em 2021.
O que deixou os especialistas intrigados ao longo de 2022 foi, porém, a mudança no padrão da mortalidade, uma vez que, à exceção de Agosto, Setembro e Outubro, morreram sempre mais de 10 mil pessoas por mês, um fenómeno que apenas tem paralelo em 1923, no rescaldo da pandemia da gripe espanhola, quando esta barreira foi ultrapassada nos sete primeiros primeiros meses do ano, de acordo com uma recolha efetuada pelo Expresso.
Ainda assim, e apesar de em Novembro e Dezembro o número de óbitos ter ultrapassado de novo 10 mil no ano passado, o estudo aprofundado sobre este fenómeno anunciado em Agosto pela ex-ministra da Saúde Marta Temido, na sequência das notícias que davam conta do persistente excesso de mortalidade (mais mortes do que as esperadas para aquela época do ano), ainda estará numa fase incipiente.
O subdiretor-geral da Saúde, Rui Portugal, disse entretanto ao Público que o estudo está a ser conduzido pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (Insa), mas nem este organismo nem o Ministério da Saúde esclareceram, para já, em que fase está esta investigação. "O estudo está no Insa. O organismo do Ministério da Saúde responsável pela investigação que recebe as perguntas e tem orçamento para organizar equipas e dar resposta é o Insa", disse Rui Portugal.
Durante uma recente audição no Parlamento, o novo ministro da Saúde adiantou que a DGS e o Insa estavam a preparar um “modelo público de análise da mortalidade a nível nacional nos últimos dois anos, contando com a participação de peritos estrangeiros”.
Até ao primeiro ano da pandemia, os períodos de excesso de mortalidade eram sempre justificados pelas epidemias de gripe sazonal, as semanas consecutivas de frio intenso no Inverno e as ondas de calor no Verão. Em 2020, a covid-19 passou a ser uma nova causa de morte e a mortalidade disparou, um fenómeno que não se verifica apenas em Portugal mas também na maior parte dos países da Europa e em vários países do mundo.
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