top of page

De Leça da Palmeira à China em bicicleta

ree

O que lhe passou pela cabeça para tomar esta decisão?

Não acordei um dia e deu-me esta vontade, foi um processo evolutivo. Primeiro comecei a assistir a palestras que há em Aveiro, o exodus, uma festival de fotografia e vídeo mas pessoas que fazem aventuras e viajantes fora da caixa aparecem. Nessas sessões ficas com a noção de que são pessoas normais. As vezes pensamos que são feitas por super humanos mas não, começas a ter noção que são pessoas normais. Todas elas partilham de uma situação que eu depois experienciei que e a felicidade. A alegria que transmitem quando estou a partilhar a viagem isso também me contagiou. Mais tarde estive com um colega e disse-lhe que gostava de dar a volta mundo, mas pensei que com o trabalho não ia ser possível. E ele disse-me “porque é que não tiras uma licença sem vencimento? Muita gente faz isso e regressam com outras competências” e fiquei a pensar naquilo ao mesmo tempo que percebi que gostava de viajar e que gosto de andar de bicicleta, sou uma pessoa saudável e chego a conclusão que não tenho restrições alimentares, cheguei a conclusão que tinha todas as condições para ir e quando fiz 50 anos ficou uma espécie de “é agora!” mas depois demorei um ano para pedir a empresa a licença sem vencimento. Era algo assim grande e não me sentia com a  coragem necessária para partir mas ao menos tempo era uma espécie de um sonho que tinha que também me chamava. Ao mesmo tempo o pensamento mau de não se expor ao risco, eu tenho uma vida normal, muita gente viaja para mudar de vida e eu sinto me mesmo confortável com a vida que tenho, não tinha nenhuma razão para partir, era mesmo um sonho. Na altura tomei a decisão quando fiz 51 anos, fiz o pedido oficial e perto de dezembro responderam a dizer que aceitavam o pedido e durante o ano de 2024 eu estava livre com a condição de regressar ao trabalho. Isso era para mim um conforto muito grande, já não sou muito jovem, de idade, termos mentais sinto me muito bem. Foi esse processo evolutivo, demorou cerca de 2 anos ate ser amadurecido e partir.


Como é que a família lidou com isso?

Sou solteiro não tenho filhos e tenho uma família mais próxima e perceberam que pelo meu entusiasmo que não havia outra alternativa senão deixar-me ir. Sei que ficaram preocupados, eu depois também escrevi uma diário todos os dias, para as pessoas saberem que eu estava bem e me acompanharem. E com isso me deixava tranquilo saber que estava a tranquilizar quem me conhece. No local sabemos avaliar a situação mas quem esta longe compreendo que sofra. Mas coreu sempre tudo bem, não houve nenhuma má situação, esmo o que não correu tao bem entendo-as como uma aprendizagem e um desafio.


Houve algum tipo de preparação física?

Eu gosto de me manter ativo fisicamente, moro em Leça da Palmeira e desde a pandemia já no passado corria e fazia BTT no Clube d e BTT de Matosinhos e na altura d pandemia voltei um a atividade física mais frequente para em equilibrar do ponto de vista mental porque estar em casa e confinamento foi duro e a minha corrida libertou-me, ajudou me a passar esse período e corria todo os dias quando acordava e depois ia trabalhar e tornou se uma rotina. A pandemia foi em 2020, eu estive uns 4 anos no fundo a treinar foi uma prova que fisicamente sentia me bem e depois pensei que estava preparado. Era mais a questão do abandono do conforto da minha vida. Tenho uma vida boa, sou saudável, gosto muito de arte e cultura, apesar de ser engenheiro eletrotécnico, e sou feliz. Expor-me a uma situação de desconforto as vezes questionava-me o porque de fazer sito. Mas a mudança e um processo exigente que nos da muita força. Agora que regressei sinto me com uma espécie de superpoder, sobretudo pelas vivencias e realidades que vi sinto-me privilegiado por ter tido a oportunidade de fazer a viagem e de viver em Matosinhos, tem todas as condições para uma boa vida e devemos reclamar menos. Para mim e tudo fácil porque e tudo acessível, ano preciso de um sitio para dormir e comer e vejo os problemas de uma outra forma, mais fáceis, tenho família e amigos e tudo o que vivi o ano passado foi um teste de resiliência que me desafiou fisicamente  e psicologicamente mas como motivação conseguimos superar esses momentos, essas montanhas e desertos.


Antes de partir não tinha receio pela quantidade de países e onde iria dormir?

Nas minhas viagens, já fui a alguns sítios, confio muito nas outras pessoas. Já viagem para a asia, médio oriente, etíopa, américa do sul e portanto nunca tive uma ma experiencia. Pode parecer estranho, mas sempre confio nas pessoas, nunca fui assaltado nem aqui, nunca tive uma ma experiência e confio muito nas pessoas. O mundo está cheio de boas pessoas e se um dia tiver que acontecer algo de mal há de se resolver. Muitas pessoas superam esses momentos e eu também acho que sou capaz, também me sinto capaz. Isso traz-me conforto para ir para o desconhecido, nunca tive uma má experiência, da me muita confiança par partir sem nada marcado e ir indo. Como levava uma tenda e um saco cama tinha condições para dormir em qualquer sitio confortável. Isso dava-me confiança, se tivesse uma avaria na bicicleta e não conseguisse chegar, tinha condições para dormir na tenda confortável e ouvia os viajantes de bicicleta. E fácil encontrar um sitio para acampar, com população há sempre alguém que nos deixa montar a tenda. Alguém que nos oferece alojamento, tive essa experiencia no Medio oriente, pessoas que em confiaram a ficar em casa dela e isso deixou-me muito sensibilizado pela ajuda que me deram que u também estava numa situação vulnerável. No medio oriente estive no verão estava muito calor, chegava o fim do dia muito cansado e a nossa expressão transmite isso as pessoas olhavam e viam que algo precisava pedir nada. Perguntavam se estava bem, convidavam-me a tomar chá e comer. Do ponto de vista humano foi uma experiência incrível. Os países do MO onde nos dizem ser os mais perigosos acho que temos que distinguir os governos da população. As pessoas são incríveis.

les param querem em conhecer tirar fotografias, eles praticam mesmo o bem. Chegaram a ir comprar me agua e bebida e comida para me darem, eles faziam questão de praticar o bem. Não e só o falar eles praticavam mesmo. E não havia nenhum interesse por trás, faziam de uma forma mesmo generosa. Agora regressando aqui a minha relação com os outros e diferente. Fui tao bem tratado que agora sinto essa responsabilidade tratar bem toda a gente que me rodeia independentemente de conhecer ou não. Por isso também falo no superpoder, a viagem foi me dando camadas na questão da tolerância, interação com os outros. Agora não tenho carro, como o ano passado vendi o carro tenho andado de metro e curiosamente vejo reações no transito a irritarem-se e penso que não há razões para isso. Os problemas que nossa afligem são mesmo superficiais comparado com problemas que eu vi noutras pessoas e em zonas muito pobres, tinham que trabalhar sem ter um salario garantido como eu tenho, com filhos para irem para a escola e sustentar e todas essas realidades que eu vivi dá-me uma responsabilidade de praticar o bem como essas pessoas também me ajudaram, sem terem literalmente quase nada para me darem. Um senhor iraniano através do tradutor do telemóvel, me convidou para dormir em casa dele, não havia alojamento la, e ele dizia que viu que eu precisava de ajuda e que era muito humilde e não tinha nada para me dar alem do sítio para dormir. E só e generosidade máxima que podemos ter, pessoas que não tem condições e isso para mim foi incrível, jamais irei esquecer na vida.


Nesses momentos não tem receio?

Senti da primeira vez, antes de adormecer estava preocupado, estava sozinho e indefeso mas ao mesmo tempo as pessoas também não sabem quem sou. O mesmo receio que tenho elas convidaram uma pessoas que não conhecem a passar uma noite em casa delas. Eu aí perdi o medo, não tinha justificação. A partir dai mudou a minha forma de aceitar os convites que me eram feitos. Quando temos uma abertura a confiança e muito poderoso. E curioso que nos países mais pobres as pessoas confiam muito mais, precisam de ajuda uns dos outros e presenciei isso. Passei por países da europa, estive nos emirados árabes unidos, em que as pessoas são mais desconfiadas mas a minha maneira de ser não e assim. curiosamente nunca tive um problema, não sei se será sorte ou a minha maneira de ser.


Quantos países foram no total?

Foram 19 países. 16 em bicicleta porque nos EAU tive que voar ate la porque não consegui obter visto do Paquistão para a Índia. Foi algo que me deixou muito irritado porque também fiz tudo ao meu alcance, escrevi ate uma carta para o embaixador, que gostava muito que me deixassem entrar na Índia por terra, mas ignoraram. Entregaram-me o passaporte passado seis semanas, gastei dinheiro era um processo multo rigoroso, apresentar conta bancaria com hotéis na Índia, uma declaração do trabalho. Tinha que justificar porque não tinha pedido visto. Foi todo um processo que demorou e muito exaustivo. No final de contas entregaram-me o passaporte e senti uma grande frustração e a pessoas que me devolveu o passaporte tive vontade de descarregar, mas por toda a humanidade que tinha recebido não fui capaz disso. Tive que arranjar alternativas e tinha que sair do Paquistão de avião. A china era preciso isso, o Afeganistão tinha que andar para trás, portanto a única forma foi viajar de avião, queria evitar mas não consegui.

Depois tive que viajar de avião do Nepal e a Tailândia porque Myanmar também esta com uma guerra civil, já sabia que iria ter que apanhar um avião. Em vez de atravessar o Norte da India ate Calcutá, decidir subir em direção a Katmandu. Os países depois ao muito diferentes e exige uma adaptação inicial a moeda a comidas pessoas.


Como é que fazia com o dinheiro?

Eu levava comigo dois cartões MB e um de crédito. E usava sempre o cartão e normalmente fazia levantamentos ou pagamentos quando era possível. Quando chegava aos países e sai da zona euro comecei a levantar e havia países que havia mais facilidade. Outros praticamente não havia e era tudo a dinheiro e quando chegava levantava algum dinheiro e depois ia levantando mais do que precisava e criava uma espécie d mealheiro e divida algum do dinheiro por mim e metia em duas bolas, caso fosse assaltado ou perdesse não ficar sem nada. Alguns países eram difíceis arranjar MB, mas conseguia sempre por mais ou menos dificuldade. O maior desafio foi no Irão. Esta sujeito as sanções económicas e quando entrei no Irão já levava algum dinheiro em dólares e euros. Quando la cheguei e muito fácil, tem lojas de cambio e ia trocando. Não dava para trocar logo tudo por causa da inflação, trocar 100 euros da quase uma mala de dinheiro. Penso que 80 ou 100 troquei e saí de lá de bolsos cheios. Quem olhasse notava. Para eles e muito como eu estive la 1 mês e meio precisava de dinheiro para comer e dormir e ter alguma reserva porque algumas zonas eram muito remotas sem acesos a MB. Ai foi o mais exigente estavas sempre a contar o dinheiro. Mas correu tudo bem, as pessoas no Irão perguntavam me varias vezes se eu precisava de dinheiro são pessoas incríveis ao contrario que pareça por causa da politica. Mas quem viva la são mesmo boas pessoas e são contra a guerra, querem a paz e como qualquer pessoa do mundo querem uma vida tranquila. Considero o Irão e também o Paquistão os países mais hospitaleiros do mundo, tratam-nos super bem, quem tiver oportunidade. Mas são países muçulmanos e uma mulher não terá a mesma experiencia que eu tive. Aconselho muito, tem boa comida, muita historia e sítios bonitos para visitar. Eu confiei e não me arrepende e nada, num período que me disseram para não ir porque era perigoso. As pessoas ajudaram-me fiquei sem palavras, isso e algo que jamais esquecerei.


Foi o país que mais surpreendeu?

Foi o Paquistão, tinha pouca informação deles, a minha ideia era passar rápido, tinha uma ideia de ser perigoso. Senti algum receio, mas como o pedido de visto para a inda demorou muito eles disseram para eu ir para o norte porque Islamabad a capita fica a meio. Tinha muito pouca informação do país e incentivaram-me a ir e atirei-me de cabeça e fui e o Paquistão e muito pobre, e fui para o desconhecido para as montanhas, apanha os Himalaias. O Paquistão e o país com as montanhas mais altas do mundo, as pessoas são incríveis vivem em situações difíceis, tem um inverno muito rigorosos, um verão muito quente, um pouco como o nosso interior, é isso, mas ainda mais intenso. E Ar condicionado não existe la, usam muito a lenha para cozinhar, estive em sítios sem eletricidade todo o dia, haviam cortes de eletricidade. Foi uma surpresa porque entrei a medo. No final já tinha amigos e ainda hoje mantenho contacto com pessoas do Paquistão. As pessoas que vem de outros países para o nosso também olho para elas de outra forma. Apesar de só ter ido de ferias, trataram-me tao bem. Quem nunca saiu da europa e esta habituado a esta vida não faz ideia o que é estar nesses países. São países enormes, Turquia, Irão, Paquistão, estamos sempre a levar com essa generosidade, pessoas que param e nos convidam para beber chá, não bebem álcool, fazem questão que paremos. As vezes de bicicleta dizia que não podia parar, porque tinha que avançar, mas a insistência era tão grande que parava. Tenho muitas fotografias nomeadamente com homens por causa d acultura muçulmana. Quando se chega não se é o mesmo.

 

Um país que lhe tenha desiludido?

Não houve nenhum, todos têm o seu encanto. Depende de onde nascemos e crescemos influencia-nos muito. O facto de ser português e ter tido a chance de viver aqui, os meus avos eram da beira alta desde pequeno que ia lá, e tive o privilegio de ter tido contacto com estas 2 realidades. Outro fator foi quando eu estava na escola era um sitio democrático, toda  a gente ia a escola os ricos e pobres. Eu tinha colegas de todos os estratos sociais e isso deu me competência para agora durante a minha viagem, na viagem estive com pessoas ricas e pobres. Independentemente do estrato social acima de tudo são seres humanos. Uma das coisas que me faziam muito era cumprimentar, mas tanto cumprimentava-me o varredor de rua ou a pessoa de carro. Isso contribuiu para não fazer diferenciação como se  faz hoje em dia, o sistema de ensino a saúde deixou de ser democrático. Tive a sorte de nascer em Portugal e acho que somos um pouco cidadão do mundo, a nossa cultura prepara-nos para viver fora, temos uma capacidade de adaptação grande, se calhar inconscientemente isso prepara-nos para ir a qualquer sitio do mundo. Adaptei-me bem e isso agradeço ao que vivi em Portugal, aos meus amigos aos meus pais.

 

Chegando ao momento que foi atropelado, pensou em desistir e voltar?

Ao longo da viagem tive momentos em que psicologicamente estava mais debilitado. Viajei sozinho e havia momentos em que estava o dia todo sem falar com ninguém e havia dificuldades de comunicação. Ou outras dificuldades como passar uma montanha, estar mau tempo, e com a ansiedade de não conhecer. Quando entrava num pais novo , esse sobe e desce da parte psicológica. Quando fui abalroado pelo carro, cai o carro não parou. Por toda a humanidade que fui sentindo, não senti raiva por me terem fugido, nunca irei saber, deixou de ser o problema. O problema passou a ser estar condicionado e continuar a viagem. No dia seguinte fui ao hospital. A minha motivação era tanta que no dia seguinte andei 77 km. Tinha dores mas continuei, depois cheguei a uma Cidade e decidi ir ao hospital e descobri que tinha uma fratura incompleta na clavícula e tinha que imobilizar o braço. Ai chorei nesse momento, a minha viagem de bicicleta tinha acabado. Tinha idealizado chegar a um destino, fazer uma festa, mesmo que fosse eu sozinho e não tive. Foi duro, foram dias bastante difíceis. O que pensei e que tinha a oportunidade de viajar, conheci muita gente que queria ter resta oportunidade e não fazia sentido voltar para casa. O médico disse q pode continuar e conheci pessoas com vidas mais difíceis e não e esta dor que me vai impedir. Deixei a bicicleta e os alfores no alojamento que estava e disse que daqui a umes voltava e fui fazer uma volta por Laos e Vietname. Andei mais de comboio, conheci mais culturas, pessoas incríveis, depois  curiosidade passou a ser não a bicicleta mas o que tinha acontecido ao braço. Porque aqueles países asiáticos andam muito de mota. Ai eu iniciava a conversa contava a minha historia e as pessoas ficavam curiosas porque o povo asiático são pessoas muito simpáticas. São mais tímidos em relação ao medio Oriente mas aso pessoas incríveis. O Vietname inspirou-me muito porque e um povo muito resiliente, tem uma história<a muito dura, tem duas guerras recentes e não tinham qualquer marca de maldade. Sempre em acolheram e isso e impressionante. Quando era nascido estavam em guerra e passado 50 anos têm uma alegria e uma força impressionante por tudo isto não tinha razoes para desistir, isso também me motivou a continuar. A natureza humana é o que me inspira mais a superar os momentos difíceis. O apoio da família dos amigos. Mas sou uma pessoa de espirito positivo e se houvesse algum problema resolvia.


Porque o nome Albarda (bicicleta)?

A bicicleta e da Nordeste, de um rapaz de Coimbra que fabrica quadros de bicicletas e recomendaram me falar com ele. Quando expliquei a situação ele recomendou me este modelo, que chama-se albarda. Mas o nome fez me lembrar os meus avos maternos, eles tinham uma burra e albarda e o nome que se da ao que se poe em cima dos burros para irmos em cima deles mais confortáveis e estabeleci logo essa relação com os meus avos e a partir dai ficou albarda.


Como foi o regresso? Qual a primeira coisa que fez?

Quando regressei os meus amigos e família foram me esperar ao aeroporto, foi uma receção muito calorosa e a primeira coisa que fiz foi abraçar a minha irmã, ela tinha muitas saudades. E claro ao resto da família e amigos.


Mas sentiu saudades do país?

Sim, da praia, não me recorde de um ano sem mergulhar no mar. ainda não o fiz mas gosto de mergulhar mesmo fora do verão, Matosinhos tem uma ligação muito forte ao mar e senti essa necessidade de ir ver o sítio e onde tinha partido, que foi a praia de Leça. Mas senti saudades da comida, como cheguei muito próximo do natal e soube me imensamente bem comer bacalhau. Foi uma coisa boa.


E podemos espera ruma viagem no futuro?

Ainda não sei, não será assim tão longa, pode ser mais pequena, mas irei querer fazer uma viagem

Comentários


bottom of page