Entrevista a Filipe Garcia: Candidato da IL à Câmara de Matosinhos
- Notícias de Matosinhos

- 11 de set.
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Filipe Garcia nunca esteve ligado à política, mas sentiu que o concelho de Matosinhos estava atrasado no tempo e muito abaixo do seu potencial. Em 2025 apresentou-se como candidato à Câmara Municipal de Matosinhos pela Iniciativa Liberal, partido pelo qual se revê totalmente com os seus ideais.
Economista Conselheiro com mais de 25 anos de experiência, o candidato é também especialista em análise e mercados financeiros e docente do Ensino Superior em Matosinhos.
O NM esteve à conversa com Filipe Garcia, que sob o mote “Transformar Matosinhos”, deu-nos a conhecer os seus planos para um novo ciclo político liberal em Matosinhos assente em três eixos fundamentais: Hoje, Amanhã, 2050.

Porque decidiu candidatar-se?
Nunca estive em nenhum projeto político-partidário, nunca fui filiado a um partido. Moro em Matosinhos há 21 anos e tenho acompanhado a evolução do município. Sinceramente, tenho estado bastante insatisfeito com o que tem acontecido no concelho nos últimos 10 anos. Notei uma degradação acentuada dos serviços básicos que a Câmara Municipal deveria assegurar e, tão ou mais grave do que isso, não existe uma perspetiva estratégica para o futuro.
Tudo o que aconteceu em Matosinhos foi reflexo de dinâmicas externas e não de uma vontade, de uma estratégia ou de um planeamento. Isto tem-se degradado cada vez mais. A minha candidatura nasce, portanto, de uma atitude cívica de quem sente a necessidade de agir.
A Iniciativa Liberal tem princípios com os quais me revejo totalmente: a valorização da liberdade individual, da iniciativa, das pessoas e da qualidade de vida. Defendemos um poder público que facilite, que coordene as vontades privadas em prol do bem comum, em vez de querer decidir tudo.
Eu e a IL Matosinhos temos a ambição de transformar o concelho no melhor lugar da Europa para viver, trabalhar, estudar e visitar. Acreditamos que somos a única alternativa competente e credível. É necessária uma mudança de ciclo. Matosinhos é um concelho único em Portugal por ter tido sempre governação socialista.
Somos competentes porque apresentamos uma estratégia clara, independência e uma equipa jovem com pessoas que sabem fazer. Somos credíveis porque temos currículos sólidos, ideias consistentes e porque queremos colocar a qualidade de vida no centro da governação. Estamos aqui para ganhar.
Disse que Matosinhos “cresceu de forma desequilibrada”. Onde sente que é mais urgente intervir?
O nosso plano de ação está dividido em três áreas: Hoje, Amanhã e 2050.
-Hoje: resolver os problemas mais urgentes, como a recolha do lixo, segurança, buracos, espaço urbano e trânsito. São questões do dia a dia que afetam os matosinhenses e que não se justificam num município com recursos e potencial como o nosso. Isto resolve-se com competência, transparência e respeito pelo dinheiro dos contribuintes.
-Amanhã: pensar o desenvolvimento harmonioso. Existem zonas com excesso de densidade e outras onde falta quase tudo. Não é justo para ninguém. Queremos criar novas centralidades, garantindo que em qualquer ponto do município as pessoas tenham, a 15 minutos a pé ou de bicicleta, acesso a serviços essenciais e a postos de trabalho. Deixar de ter apenas um “centro” e permitir que várias zonas do concelho se desenvolvam.
-2050: queremos um município vencedor na batalha pelo talento, onde a qualidade de vida seja referência. Em 2050, queremos que Matosinhos seja visto como modelo europeu em qualidade de vida, desenvolvimento e inovação.
O problema das alternativas atuais é que nenhum partido apresenta um plano de longo prazo. Matosinhos tem sido sempre reativo, nunca proativo.
Qual a sua visão para a habitação em Matosinhos?
É um problema nacional. Conheço bem o setor, porque é a minha área profissional. O problema principal é a falta de oferta, mas sobretudo os elevados custos de construção. Os projetos concentram-se sempre nas mesmas zonas, criando densidade e preços muito altos.
Podemos atuar promovendo novas centralidades, aproveitando terrenos menos valorizados, rústicos ou devolutos, que possam ser libertados. É preciso estudar cada caso e tomar decisões com base em conhecimento.
Outro ponto essencial é reduzir taxas e simplificar licenciamentos. A Câmara não tem de ser promotora direta da construção, mas deve criar condições para que ela aconteça, garantindo casas em locais de menor densidade mas com bons acessos.
Infelizmente, muitas medidas que se tomam parecem mais mediáticas do que eficazes.
Defende a integração tarifária plena com a Área Metropolitana do Porto (AMP). Como pode isso beneficiar Matosinhos?
É irrealista pensar a mobilidade apenas concelho a concelho. Grande parte da população viaja diariamente entre concelhos. O sucesso do Andante prova que existe procura por soluções integradas. O problema é que muitas vezes câmaras de partidos diferentes não querem promover soluções que beneficiem municípios governados por outros partidos. Isso tem de acabar. A Iniciativa Liberal não tem esses vícios partidários: estamos sempre do lado da solução. No transporte público há integração, mas na gestão do tráfego não. A VCI, por exemplo, não passa por Matosinhos, mas é uma das vias que mais nos afeta. É preciso uma visão macro da AMP. Ao nível local, falta planeamento: obras sem transparência, mudanças de sentidos, rotundas improvisadas. Tudo muito caótico. Queremos trazer organização, visão e planeamento.
E em relação à extensão do metro até Leça da Palmeira?
É uma reivindicação quase consensual. O PS, tendo peso político nacional durante os governos de António Costa, podia ter conseguido essa obra. Não o fez. O PSD também nunca se destacou nesse tema. O que falta é vontade política. Há dinheiro, há planos, mas não se avança. O essencial é que a visão da mobilidade seja metropolitana, não apenas municipal.
Defende a redução da carga fiscal. Que taxas gostaria de cortar?
Todas as taxas abaixo de 10 euros devem acabar, porque são mais burocracia do que receita. A receita de Matosinhos, sem contar com o PRR, tem crescido: IMI, derrama, etc. Mas isso tem revertido a favor dos munícipes? Não me parece. É fundamental fazer uma auditoria independente às contas da Câmara. Tenho quase a certeza de que vamos encontrar gastos excessivos. Com melhor gestão, conseguimos reduzir a carga fiscal. Não faz sentido um município rico como Matosinhos ter serviços de resíduos tão maus. O dinheiro deve ficar no bolso das pessoas.
Como pretende envolver a população nas decisões estratégicas?
A Câmara gasta centenas de milhares de euros em comunicação — revistas, panfletos, cartazes — mas isso não é comunicar. Comunicar é ouvir. Hoje, quando um munícipe envia um e-mail, recebe uma resposta automática e depois fica sem feedback. Defendo um sistema de atendimento com prazos obrigatórios de resposta. Só assim se cria confiança. O dinheiro gasto em propaganda podia ser usado para sistemas de escuta ativa e de resolução de problemas.
A situação do lixo e dos passeios degradados é uma das principais queixas.
É chocante. Os munícipes sentem-se defraudados. Não faz sentido um concelho rico ter passeios degradados, lixo acumulado e serviços tão ineficazes. Isto não é uma questão política, é uma questão de competência. Respeito pelos idosos não é levá-los a passeios turísticos, é garantir que não caem num passeio esburacado. Enquanto se gasta em comunicação, falha-se no essencial: os serviços básicos. É isso que queremos mudar.
Como avalia a presença policial e a instalação de câmaras de vigilância?Segurança começa na qualidade do espaço urbano: ruas limpas, boa iluminação, passeios em condições, prédios devolutos controlados. Segurança é sentir-se seguro a qualquer hora. Defendemos policiamento de proximidade em vez de medidas repressivas. Videovigilância pode ser útil, mas deve ser avaliada caso a caso, com respeito pela privacidade. Não queremos uma câmara em cada esquina.
E a poluição na Praia de Matosinhos e no Rio Leça?
É lamentável ver regressarmos à situação dos anos 80. No Rio Leça, as descargas ilegais são incompreensíveis. Defendemos monitorização em tempo real e mais utilização do corredor e da ciclovia, porque mais pessoas a circular reduzem a probabilidade de descargas. Na Praia de Matosinhos, o problema é estrutural. Com o alargamento do pontão, a circulação da água diminuiu. Sem resolver a poluição a montante, o problema só vai agravar-se. O mais grave é a falta de comunicação da Câmara: houve dias em que a praia estava interditada e os banhistas não sabiam. Para nós, a praia é um ex-libris do concelho e deve ser tratada como prioridade.
Se tivesse de descrever Matosinhos em 2035, sob a sua liderança, o que veríamos?
Um concelho de referência europeia em qualidade de vida. Em 2035, todos os serviços básicos da Câmara estarão garantidos. Matosinhos terá novas centralidades, menos sobrecarga em algumas zonas e mais equilíbrio territorial. Será um concelho que atrai pessoas e empresas, oferecendo emprego e qualidade de vida. O processo de decisão será competente, centrado nas pessoas, independente e com visão de longo prazo.
Que mensagem gostaria de deixar aos matosinhenses?
Estamos a fazer um grande esforço para nos darmos a conhecer. Gostaríamos que os cidadãos também fizessem o esforço de nos ouvir e conhecer melhor. Somos diferentes das outras candidaturas: pelas ideias, pela equipa e pela forma como encaramos a política. Para nós, a política é um meio, não um fim. Queremos ouvir as pessoas, tomar decisões justificadas e reconstruir uma relação de confiança. A atual governação não mostra energia nem projeto. A oposição não tem capacidade nem empatia. Nós temos. Somos a única alternativa competente e credível.





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