À conversa com Bruno Pereira: Os planos do PSD para Matosinhos
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- 7 de mai.
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Porque decidiu recandidatar-se?
Diria que a pergunta certa é: porque é que alguém que não vive da política, nem nunca viveu, decide envolver-se ativamente na política? Filiei-me no PSD com 16 anos, porque na altura representava o que eu idealizava. Candidatar-me à presidência da autarquia foi uma decisão relativamente simples. Tenho um forte sentido de missão: quero fazer algo pela minha terra.
Sou de Matosinhos. Nasci, cresci e vivo aqui. Foi onde construí a minha família, onde criei os meus filhos e onde exerço a minha profissão. Achei que podia contribuir positivamente para a comunidade.
Com o tempo, fui percebendo que nem todos os eleitos têm a qualidade necessária para a tomada de decisões. Por isso, estou motivado a mostrar que é possível fazer diferente e melhor. Matosinhos é uma terra fantástica, com imenso potencial, mas infelizmente temos sido governados por uma elite que parece quase hereditária, com uma linha de continuidade de 50 anos. Essa falta de alternativas tem levado a uma perda de qualidade política. Acredito que é possível fazer mais e melhor. Tenho ideias para o concelho, capacidade de trabalho, vontade de estudar os dossiers e liderar Matosinhos com seriedade.
Falou anteriormente da criação de uma nova avenida entre Perafita e Lavra, e da proposta de uma nova saída da A28 antes do Hospital Pedro Hispano. Que passos concretos foram dados? Que resposta teve do executivo?
Apresentámos várias propostas de novos arruamentos porque a mobilidade é um dos principais problemas do concelho. Matosinhos não tem vias municipais de grande impacto — ao contrário de concelhos como Gaia. As principais vias rodoviárias são da responsabilidade do governo central: A28, A4, circunvalação, Via Norte.
Fizemos um levantamento dos principais focos de congestionamento e propusemos ligações como a da Senhora da Hora à entrada da A4, que já estão estudadas, mas continuam sem sair do papel. A norte, nas freguesias como Lavra e Perafita, há sérios problemas de mobilidade — falta de transportes públicos, por exemplo. O metrobus não servirá eficazmente estas zonas, vai mais direcionado para o aeroporto e centros comerciais.
Também há um crescimento urbano acentuado nestas áreas — como na EXPONOR, na envolvente ao Mar Shopping e até na zona da Petrogal — e precisamos de vias que sirvam essas novas zonas habitacionais e comerciais. Propusemos uma ligação entre Leça da Palmeira (final) e Lavra (zona habitacional), para que as pessoas possam circular internamente, sem depender sempre da A28.
Quanto às novas saídas da A28, propusemos alternativas que aliviem a pressão na rotunda dos Produtos Estrela e permitam melhor acesso ao Estádio do Mar e Hospital Pedro Hispano. Infelizmente, da parte do executivo municipal, não houve qualquer resposta. Nem crítica, nem elogio — apenas silêncio.
Também sugeriu uma reconversão da circunvalação numa espécie de "boulevard". Isso é viável, tendo em conta que atravessa vários concelhos?
Sim, é viável. A circunvalação é hoje uma via urbana, completamente diferente do que era há 50 anos. Está densamente urbanizada e com grande presença de serviços — hospitais, escolas, comércio, habitação. Já não faz sentido tratá-la como uma estrada nacional.
Deveria ser tratada como uma avenida moderna, ao estilo da Avenida da Boavista. Já há projetos desde 2005 para a sua reconversão, em colaboração com a IP e as autarquias envolvidas, mas infelizmente nunca passaram do papel. É um erro grave. A zona da rotunda dos Produtos Estrela é uma das mais críticas do país em termos de tráfego e exige uma requalificação urgente.
No passado criticou os pórticos na A28 e A4. Porquê?
Os pórticos na A28, particularmente entre zonas dentro do concelho, representam uma clara injustiça. Um habitante de São Mamede de Infesta que queira ir ao Hospital Pedro Hispano tem de pagar portagem, ao contrário de quem está na Senhora da Hora. Isso cria desigualdade dentro do próprio concelho.
Além disso, a existência de pórticos na A4 agrava a saída e entrada na Área Metropolitana do Porto. A sua remoção permitiria melhorar os fluxos de trânsito e tirar pressão da A28. O próprio Plano Metropolitano de Mobilidade já reconheceu isso, e o atual ministro anunciou recentemente a intenção de retirar esses pórticos. O poder político ignorou este problema durante demasiado tempo.
Tem defendido a extensão do metro a S. Mamede de Infesta (SMI) e a Leça. Houve alguma resposta da Metro ou do Governo?
Infelizmente, não. Apresentámos propostas, solicitámos reuniões, mas a Metro do Porto ignorou. Propusemos, por exemplo, uma extensão da linha de Matosinhos, passando pela EXPONOR e zonas habitacionais em Leça, indo até à Petrogal e Perafita. Seria uma solução mais lógica e eficaz do que o atual projeto do metrobus, que se foca demasiado no aeroporto.
A linha de SMI, que ligaria a Senhora da Hora ao Hospital de São João, está prometida desde os anos 2000. Já fizemos abaixo-assinados, mobilizações — é uma luta antiga. Essa linha seria vital para a requalificação urbana e para a mobilidade de zonas como Padrão da Légua, Asprela, SMI. Também permitiria que quem vem de concelhos vizinhos deixasse o carro e seguisse para o Porto de forma cómoda.
Durante os governos de José Sócrates e António Costa, esta linha foi sempre preterida em favor de outras — Gaia, Gondomar, Trofa. A autarquia de Matosinhos, tanto com Guilherme Pinto como com Luísa Salgueiro, nunca teve força política para a fazer avançar. E pior: quando parecia que íamos ter novidades, decidiram mudar o traçado e começar tudo de novo — com novos estudos e mais gastos. Foi um retrocesso.
Falando da habitação, que medidas concretas propõem para uma habitação acessível em Matosinhos?
Há dois grandes problemas. Primeiro, a revisão do PDM em 2019 foi mal feita. Reduziu o índice de construção e triplicou as taxas. Quem herdou terrenos viu o seu potencial de construção baixar, e isso encareceu a habitação. Matosinhos perdeu competitividade em relação aos concelhos vizinhos.
Segundo, há 20 anos que não se constrói habitação social em Matosinhos. Existem 1750 pessoas em lista de espera e a Câmara tem sido lenta e burocrática. Defendemos o regresso das cooperativas habitacionais, como nos tempos de Narciso Miranda. Funcionaram muito bem, mas foram abandonadas.
Queremos também criar um campus universitário em São Mamede de Infesta. Isso libertaria muitas casas hoje ocupadas por estudantes, devolvendo-as ao mercado para famílias. E defendemos também a construção de residências sénior em regime de coliving, para dar resposta à falta de lares e ao isolamento dos mais velhos. Por fim, é urgente requalificar os imóveis devolutos nos centros históricos, como fez o Porto.
Em relação às questões ambientais, que políticas considera prioritárias? Vi que defendia as turbinas offshore.
Temos várias prioridades. Primeiro, os rios e ribeiras estão poluídos. Há ligações ilegais, industriais e domésticas, que vão desaguar no mar. A ribeira da Riguinha, por exemplo, desagua na Praia de Matosinhos, que devia estar interdita a banhos — está altamente poluída. Falta fiscalização e ação.
Propomos uma estação de dessalinização nos terrenos da antiga refinaria da Petrogal. Estão contaminados, mas podem servir para abastecimento não potável — rega, lavagem de ruas, edifícios públicos — poupando água potável.
Defendemos também o aproveitamento da energia solar e eólica, incluindo turbinas offshore, tal como em Viana do Castelo. E é fundamental que a nova construção urbana integre espaços verdes. Cortar tudo e construir só betão é um erro.
Defende a construção do parque urbano de São Mamede. Já apresentou formalmente à Câmara?
Sim, todas as propostas foram formalmente apresentadas. Algumas foram discutidas, mas muitas foram ignoradas. A autarquia não dá resposta, ou prefere seguir outro caminho. No caso da habitação, por exemplo, Luísa Salgueiro está há 8 anos na Câmara e não entregou uma única habitação nova. Fez algumas requalificações e trocas de casas, mas construção nova: zero. Isso é falta de visão e de competência.
Em ano de Matosinhos Cidade Europeia do Desporto, defendeu um skatepark. Concorda com a proposta do PS de o construir na Senhora da Hora?
Não concordamos com a localização. Defendemos muito mais do que um skatepark — queremos um centro de alto rendimento para desportos deslizantes como skate, BMX e patins, modalidades olímpicas e com procura crescente. Idealizamos esse espaço na zona do Parque Real, que tem boas acessibilidades, metro à porta, escolas e é uma zona da cidade sem vida. Seria uma forma de revitalizá-la. Fala-se há anos de um skatepark, mas nada foi feito. A CED já começou e não vemos obra. Parece que ficará, mais uma vez, no papel.
Em 2021 propôs um museu subaquático. Essa ideia mantém-se?
Sim, o turismo precisa de propostas inovadoras. Propusemos um museu do mar fora das quatro paredes, com espólio espalhado pela orla costeira — temos 9 km e estão subaproveitados. Por que não colocar um barco visitável em terra? Criava-se uma ligação entre turismo, comércio e cultura. Quanto ao parque subaquático, há 15 milhões de mergulhadores no mundo. Matosinhos já tem um submarino nazi afundado — porque não criar infraestruturas como em concelhos do Algarve? É um nicho que pode atrair turismo qualificado, gerar receita para restauração, hotelaria e atividades de praia.
Tem defendido um masterplan para o trânsito. Já houve contactos com a Câmara?
Defendemos um plano integrado, mas a Câmara, com maioria absoluta, diz que tem tudo previsto… e não faz nada. Matosinhos precisa de articulação com Porto, Maia, Área Metropolitana, transportadoras, universidades e moradores. Temos de estudar os horários de maior congestionamento e adaptar a rede de transportes. Em 8 anos não se criou uma única rua nova nem se melhorou mobilidade. A ponte entre o Estádio do Mar e a Senhora da Hora é bonita, mas não resolveu nada. É exemplo de má gestão e falta de visão.
Na educação, o PSD defende prémios de excelência e mais creches. O que propõem concretamente?
Matosinhos foi pioneiro na descentralização da educação, ainda no tempo de Passos Coelho. Tem um bom pacote financeiro, mas falha na execução. Não se construiu uma única creche ou berçário nas últimas décadas. Defendemos acordos com IPSS, Igreja e ensino privado. É preciso também responder às necessidades educativas especiais: autismo, défice de atenção, etc. Matosinhos falha totalmente aqui. A Maia já tem salas sensoriais, Matosinhos não. Defendemos escolas de referência e equipas multidisciplinares nas escolas. Os pais hoje sentem-se abandonados.
Como vê a segurança no concelho, em especial na zona do NorteShopping?
Fomos dos primeiros a defender videovigilância em 2021. Lisboa, Porto e Amadora já usam. A Câmara de Matosinhos demorou muito a avançar, por teimosia ou desleixo. Só pediu oficialmente em 2023. Há zonas prioritárias — Matosinhos Sul, orla costeira, NorteShopping — mas também zonas comerciais nas freguesias, como Leça, Senhora da Hora, São Mamede, e centros como o Mar Shopping ou Exponor. A criminalidade aumentou, até juvenil. A autarquia tem de agir — negar a realidade é hipocrisia. Estamos a pagar a demora com mais insegurança.
Planos para o futuro? Vai continuar em campanha?
Estamos sempre em campanha — em contacto com instituições, associações e população. Fiscalizamos, propomos e alertamos. A maioria absoluta do PS cria bloqueios e falta de resposta. Queremos que as boas ideias sejam implementadas — sejam nossas ou de outros. O importante é que sirvam os matosinhenses. Todas as freguesias merecem o mesmo respeito. É isso que nos move: ver o concelho melhorar e combater desigualdades internas.





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